Por: Max Damas - Assessor da Presidência da ABMES e Assessor da Presidência do SEMERJ e da FOA (Fundação Oswaldo Aranha)
A Avaliação da Educação Superior no Brasil entrará, em 2025, em uma nova fase. Com o anúncio recente do Diretor de Avaliação da Educação Superior do INEP, Ulysses Teixeira, fomos informados de alterações estruturais importantes no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE). Tais mudanças não apenas reforçam o compromisso com a qualidade educacional, mas também impõem novos desafios para as instituições de ensino superior (IES), especialmente no que se refere à coerência formativa e à consistência do aprendizado ao longo do tempo.
Três provas, três perfis
Uma das principais novidades do ENADE 2025 está na segmentação das avaliações em três tipos distintos de provas, conforme a natureza dos cursos: Licenciaturas, Tecnológicos e Bacharelados. Essa diferenciação representa um avanço na busca por instrumentos mais justos e específicos, respeitando as particularidades pedagógicas e profissionais de cada formação.
Para os cursos de Tecnologia e Bacharelado, o número de questões aumentará para 45 itens: sendo 15 de Formação Geral, extraídas de um banco de 25 questões, e 30 de Formação Específica, selecionadas entre 50 previamente elaboradas. No caso da Formação Geral, haverá ainda uma importante inovação: as questões passarão a ser contextualizadas por área, contribuindo para uma avaliação mais conectada às realidades dos campos profissionais.
A chegada da TRI e a nova lógica de avaliação
O aspecto mais marcante da reformulação é, sem dúvida, a introdução da Teoria da Resposta ao Item (TRI). Essa metodologia, amplamente utilizada em avaliações de larga escala como o ENEM, atribui níveis de dificuldade aos itens e considera, além do número de acertos, a coerência do padrão de respostas. A partir disso, o desempenho não será mais avaliado apenas pela quantidade de questões respondidas corretamente, mas também pelo grau de complexidade dos itens acertados e pela consistência do comportamento do estudante diante das diferentes dificuldades.
Todas as questões seguirão o modelo de múltipla escolha, com apenas uma alternativa correta e quatro distratores. Serão aplicadas por meio da técnica dos Blocos Incompletos Balanceados (BIB), permitindo a distribuição equilibrada dos itens entre os estudantes, garantindo validade estatística e viabilidade operacional, mesmo com diferentes combinações de questões.
Desempenho coerente, formação robusta
Diante desse novo cenário, a busca pelo bom conceito no ENADE se desloca da simples preparação para a prova para a construção de uma aprendizagem efetiva e contínua. Aquelas instituições que conseguirem promover uma formação sólida, capaz de preparar os estudantes para lidar com questões de múltiplos níveis de complexidade, serão naturalmente favorecidas pela TRI.
Nesse contexto, o IDD (Indicador de Diferença entre os Desempenhos Observado e Esperado) deverá assumir papel ainda mais relevante na composição do conceito de curso, reforçando a importância da evolução formativa do estudante ao longo do tempo. Mais do que nunca, será necessário assegurar que o currículo promova a aprendizagem significativa, e que os métodos de ensino estejam efetivamente alinhados às competências exigidas na formação profissional e cidadã.
Currículos a serviço da aprendizagem
Essa mudança nos obriga a rever posturas historicamente adotadas na estruturação dos projetos pedagógicos de curso. Estratégias baseadas em decisões de caráter exclusivamente financeiro — como o enxugamento indiscriminado de matrizes curriculares — perdem espaço em um cenário onde o desempenho acadêmico real é cada vez mais valorizado.
Estamos sendo chamados a um novo compromisso: reconstruir nossos currículos com base em evidências de aprendizagem, integrar teoria e prática, fortalecer o vínculo com a realidade profissional e promover, em sala de aula, os mesmos desafios complexos que os estudantes encontrarão na vida real.
Um chamado à responsabilidade institucional
O ENADE 2025 inaugura um novo patamar de exigência e sofisticação no processo avaliativo da educação superior. Ele não será apenas um instrumento de aferição de desempenho, mas um termômetro da coerência entre o projeto formativo e os resultados concretos da aprendizagem.
Como educadores, gestores e líderes institucionais, somos desafiados a responder com responsabilidade, visão estratégica e compromisso ético. A excelência não poderá mais ser simulada, e sim construída, ao longo de cada aula, cada módulo, cada semestre.
O futuro da avaliação já começou. E nossas instituições precisam estar preparadas para ele.